Produção Textual - ENEM

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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Interpretação textual - 3º anos


LÍNGUA PORTUGUESA

PROFESSORA: VENNISTELA

Leia o texto abaixo e responda às questões de nº 01 a 10.

TROPEÇOS

A GRAÇA E A LÓGICA DE CERTOS ENGANOS DA FALA

O compenetrado pintor de paredes olhou as grandes manchas que se expandiam por todo o teto do banheiro do nosso apartamento, as mais antigas já negras, umas amarronzadas, outras esverdeadas, pediu uma escada, subiu, desceu, subiu, apalpou em vários pontos e deu seu diagnóstico:

– Não adianta pintar. Aqui tem muita “humildade”.

Levei segundos para compreender que ele queria dizer “umidade”. E consegui não rir. Durante a conversa, a expressão surgiu outras vezes, não escapara em falha momentânea.

Há palavras que são armadilhas para os ouvidos, mesmo de pessoas menos humildes. São captadas de uma forma, instalam-se no cérebro com seu aparato de sons e sentidos – sons parecidos e sentidos inadequados – e saltam frescas e absurdas no meio de uma conversa. São enganos do ouvido, mais do que da fala. Como otropeção de uma pessoa de boas pernas não é um erro do caminhar, mas do ver.Resultam muitas vezes formas hilárias. O zelador do nosso prédio deu esta explicação por não estar o elevador automático parando em determinados andares: – O computador entrou em “pânico”. Não sei se ele conhece a palavra “pane”. Deve ter sido daquela forma que a ouviu e gravou. Sabemos que é “pane”, ele assimilou “pânico” – a coisa que nomeamos é a mesma, a comunicação foi feita. Tropeço também é linguagem.O cheque bancário é freqüentemente vítima de um tropicão desses. Muita gente diz, no final de uma história de esperteza ou de desacordo comercial, que mandou “assustar” um cheque. Pois outro dia encontrei alguém que mandou “desbronquear” o cheque. Linguagens... Imagino a viagem que a palavra “desbloquear” fez na cabeça da pessoa: a troca comum do “l” pelo “r”, a estranheza que se seguiu, o acréscimo de um “n” e aí, sim, a coisa ficou parecida com alguma coisa, bronca, desbronquear, sem bronca. Muita palavra com status de dicionário nasceu assim. Já ouvi de um mecânico que o motor do carro estava “rastreando”, em vez de “rateando”. Talvez a palavra correta lhe lembrasse rato e a descartara como improvável. “Rastrear” pareceria melhor raiz, traz aquela ideia de vai e volta e vacila, como quem segue um rastro... Sabe-se lá. Há algum tempo, quando eu procurava um lugar pequeno para morar, o zelador mostrou-me um quarto-e-sala “conjugal”. Tem lógica, não? Muitos erros são elaborações. Não teriam graça se não tivessem lógica. [...]

(ÂNGELO, Ivan. Tropeços. Veja-SP, São Paulo:Abril, 23 abr.2003)

01. - Leia, com atenção, os períodos seguintes:

Há algum tempo, quando eu procurava um lugar pequeno para morar... (L.25/26)
Não teriam graça se não tivessem lógica. [...] (L.27)
Há algum tempo, quando eu procurava um lugar pequeno para morar... (L.25/26)

Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, as relações semânticas estabelecidas pelas orações sublinhadas:

A) tempo, concessão, comparação
B) condição, concessão, finalidade
C) condição, conseqüência, comparação
D) tempo, condição, finalidade
E) causa, condição, conseqüência

02. A forma verbal assinalada está concordando no singular por se tratar de um verbo impessoal na alternativa:

A) “O compenetrado pintor de paredes olhou as grandes manchas...” (L.1)
B) “ Há palavras que são armadilhas para os ouvidos...” (L.7)
C) “E consegui não rir.” (L.5)
D) “Talvez a palavra correta lhe lembrasse rato...” (L.23/24)
E) “ Tropeço também é linguagem.“ (L.15/16)

03. Na construção de um texto, a fim de garantir a coesão textual, ocorre a substituição de termos por outros, que referenciam o que foi dito anteriormente. A palavra destacada tem sua referência correta em:

A) “Não sei se ele conhece a palavra “pane”. – computador (L.14)
B) “Levei segundos para compreender que ele queria dizer “umidade” (L.5). - diagnóstico
C) ”Talvez a palavra correta lhe lembrasse rato...” (L.23/24) – motor
D) “...as mais antigas já negras, umas amarronzadas...” (L.2)- paredes
E) “...instalam-se no cérebro com seu aparato de sons e sentidos...” (L.8) – palavras

04. O vocábulo destacado pode ser substituído pela palavra indicada, sem que haja alteração de sentido,em:

A) “...como quem segue um rastro...” (L.25) - vestígio
B) “ ...instalam-se no cérebro com seu aparato de sons e sentidos...” (L.8) - simplicidade
C) “Resultam muitas vezes formas hilárias.” (L.11) - desconhecidas
D) ”Muitos erros são elaborações.” (L.26/27) - misturas
E) “O compenetrado pintor de paredes olhou as grandes manchas...” (L.1) - comportado

05. “... ele assimilou “pânico” – a coisa que nomeamosé a mesma...” (L.15)

A substituição do conectivo assinalado por outro, atendendo- se às normas de regência verbal, ocorre em:

A) ele assimilou “pânico” – a coisa a que qualificamos é a mesma..
B) ele assimilou “pânico” – a coisa por que nos referimos é a mesma..
C) ele assimilou “pânico” – a coisa a que aludimos é a mesma..
D) ele assimilou “pânico” – a coisa com que nos interessamos é a mesma..
E) ele assimilou “pânico” – a coisa de que designamos é a mesma..

06. Considerando os modos de organização do discurso, o texto de Ivan Ângelo apresenta passagens que podem ser classificadas como narrativas, como se constata no trecho:

A) “Há palavras que são armadilhas para os ouvidos, mesmo de pessoas menos humildes.” (L.7)
B) “O cheque bancário é freqüentemente vítima de um tropicão desses.” (L.17)
C) “Muita palavra com status de dicionário nasceu assim.” (L.21/22)
D) “Muitos erros são elaborações. Não teriam graça se não tivessem lógica. [...] (L.26/27)
E) ”Já ouvi de um mecânico que o motor do carro estava “rastreando”.(L.23).

07. A principal conclusão a que se pode chegar após a leitura do texto de Ivan Ângelo é que:

A) Os “erros” geralmente se originam de falhas momentâneas da memória lingüística de um falante.
B) Uma grande parte dos “erros” cometidos pelos falantes de uma língua evidencia um raciocínio linguístico lógico.
C) Os “erros” cometidos pelos falantes poderiam ser facilmente resolvidos com o uso do dicionário.
D) A ocorrência maior ou menor dos “erros” está intimamente relacionada ao grau de escolaridade do falante.
E) A maioria dos “erros” é causada por perdas auditivas que acometem os falantes de uma língua.

08. A frase do texto que melhor sintetiza as idéias do autor é:
A) “Há palavras que são armadilhas para os ouvidos, mesmo de pessoas menos humildes.”
B) “– O computador entrou em “pânico”.
C) “Tropeço também é linguagem. “
D) “Resultam muitas vezes formas hilárias.”
E) “Muita palavra com status de dicionário nasceu assim.”

09. No fragmento “pediu uma escada, subiu, desceu, subiu, apalpou em vários pontos e deu seu diagnóstico...” (L.2/3), as vírgulas são utilizadas para:

A) marcar um adjunto adverbial deslocado
B) indicar a presença de uma oração intercalada
C) mostrar que há uma quebra da ordem direta da frase
D) separar termos coordenados
E) assinalar a presença de um aposto

10. No texto, o autor faz considerações sobre o modo de proceder dos falantes diante de palavras desconhecidas. Para demonstrar sua tese a respeito desse fato lingüístico, o autor usa como recurso principal:

A) a apresentação de informações pressupostas ou subentendidas
B) o relato de exemplos e casos concretos
C) a citação de dados científicos e estatísticas
D) a caracterização pormenorizada de personagens
E) a progressão temporal dos enunciados