SPAECE/ ENEM 2013 - LÍNGUA
PORTUGUESA
PROFESSORA:
VENNISTELA
TEXTO: 1- A escola
então era risonha e franca?
Naquele ano de 1919, em Fortaleza, a nossa rua se chamava do Alagadiço: era
larguíssima, uma longa sucessão de chácaras com jardim à frente, imenso quintal
atrás. (...)
Do outro lado da rua, defronte ao poste do bonde, ficava a escola pública da
Dona Maria José. (...) Nela estudava o meu tio Felipe, que era quase da minha
idade.(...) E eu, que chegara um mês antes do Pará, tinha loucura pra
frequentar a escola, mas ninguém consentia. Minha mãe e meu pai alimentavam
ideias particulares a respeito de educação formal: desde que eu já sabia ler —
aprendi sozinha pelos cinco anos — e tinha livros em casa, jornais, revistas (O
Tico-Tico!), o resto ficava para mais tarde. Eu então fugia, atravessava o
trilho para espiar a escola. Principalmente nos dias de sabatina, quando a
meninada toda formava uma roda, cantando a tabuada, a professora com a
palmatória na mão. Primeiro era em coro, seguido: “6+6, 12! 6+7, 13!” O mais
difícil era a tabuada de multiplicar, principalmente nas casas de sete pra cima
e entrando no salteado: “7x9, 56; 8x9, 72!” Aí a palmatória comia e os bolos
eram dados pelo aluno que acertava, corrigindo o que errava. E eram aplicados
na proporção do erro. Tabuada de sete a nove era fogo. O pior era um aluno
grandalhão — iria pelos 14 anos — que não acertava nunca. Chegando a vez dele,
a roda cantava: “8x7?” A roda esperava e ele gaguejava, ficava da cor de um
pimentão e começava a chorar. Palmatória nele. Eu, que espionava da janela e já
tinha aprendido a tabuada, de tanto ver sabatina, soprava de lá: “56!” Dona
Maria José, se ouvia, levantava os olhos pra cima e até sorria. Mas o pobre
nunca entendia o sopro. Uma vez caiu de joelhos. Mas não perdoavam: bolo nele!
E no dia seguinte ele vinha pra aula de mão amarrada num pano, sempre sujo.
As pessoas são cruéis. Menino é muito cruel. Agora me lembrei que chamavam o
coitado de Zé Grandão. Nunca deu pra nada, nem pra caixeiro de bodega — não
conseguia anotar direito as compras no borrador. Ele mesmo, mais tarde, nos
contou isso.
(...)
Por isso me ficou a convicção, lá no fundo da alma: só se pode mesmo vencer na
vida aprendendo tabuada de cor e salteado. Principalmente as casas altas de
multiplicar.
QUEIROZ,
Rachel de.
1. O
título do texto faz referência a uma idealização da escola que a crônica:
a. corrobora(fortalece)
b. complementa
c. questiona
d. retrata
e. reforça.
2. Considerando
- se o resultado da aprendizagem de Zé Grandão, verifica-se que o uso da
palmatória como recurso pedagógico era:
a. doloroso mas
indispensável.
b. cruel mas
criativo
c. estranho e
ineficaz.
d. humilhante e
ineficaz
e. emocionante e
inovador.
3. Chegando a
vez dele, a roda contava: “8 x 7?”
A oração em
destaque exprime ideias de
a.Causa b. Concessão (embora) c.
Tempo d. Finalidade e. Consequência
4. Marque a passagem em que a narradora se
revela autodidata.
b. “ _ aprendi
sozinha pelos cinco anos – “
c. “Eu então
fugia, ... para espiar a escola.”
d. “ O mais difícil
era a tabuada de multiplicar.”
e. “Só se pode
mesmo vencer na vida aprendendo tabuada”.
Leia o texto abaixo e responda às questões
Leia o texto abaixo e responda às questões
TEXTO: 2- LÍNGUA
BRASILEIRA
“Outro dia eu
vinha pela rua e encontrei um mandinho, um guri desses que andam sem carpim, de
bragueta aberta, soltando pandorga. Eu vinha de bici, descendo a lomba pra ir
na lancheria comprar umas bergamotas...”
Se você não é gaúcho, provavelmente não entendeu
nada do que eu estava contando. No Rio Grande do Sul a gente chama tangerina de
bergamota e carne moída de guisado. Bidê, que a maioria usa no banheiro, é o
nome que nós damos para a mesinha de cabeceira, que em alguns lugares chamam de
criado mudo. E por aí vai. A privada nós chamamos de patente. Dizem que começou
com a chegada dos primeiros vasos sanitários de louça, vindos da Inglaterra,
que traziam impresso “Patent” número tal. E pegou. [...]
O Brasil tem
dessas coisas, é um país maravilhoso, com o português como língua oficial, mas
cheio de dialetos diferentes.
No Rio de
Janeiro é “e aí merrmão! CB, sangue bom!”. Até eu entender que merrmão era “meu
irmão” levou um tempo. Pra conseguir se comunicar, além de arranhar a garganta
com o erre, você precisa aprender a chiar que nem chaleira velha: “vai rolá
umasch paradasch ischperrtasch”.
Na cidade de São
Paulo eles botam um “i” a mais na frente do “n”: “ôrra meu! Tô por deintro, mas
não tô inteindeindo o que eu tô veindo”. E no interiorrr falam um erre todo
enrolado: “a Ferrrnanda marrrcô a porrrteira”. Dá um nó na língua. A vantagem é
que a pronúncia deles no inglês é ótima.
Em Mins, quer
dizer em Minas, eles engolem letras e falam Belzonte, Nossenhora. Doidemais da
conta, sô! Qualquer objeto é chamado de trem. Lembrei daquela história do
mineirinho na plataforma da estação. Quando ouviu um apito, falou apontando as
malas: “Muié, pega os trem que o bicho tá vindo”.
No nordeste é
tudo meu rei, bichinho, ó xente. Pai é painho, mãe é mainha, vó é vóinha. E pra
você conseguir falar com o acento típico da região, é só cantar a primeira
sílaba de qualquer palavra numa nota mais aguda que as seguintes. As frases são
sempre em escala descendente, ao contrário do sotaque gaúcho.
Mas o lugar mais
interessante de todos é Florianópolis, um paraíso sobre a terra, abençoado por
Nossa Senhora do Desterro. Os nativos tradicionais, conhecidos como Manezinhos
da Ilha, têm o linguajar mais simpático da nossa língua brasileira. Chamam
lagartixa de crocodilinho de parede. Helicóptero é avião de rosca (que deve ser
lido rôschca). Carne moída é boi ralado. Caso você queira um pastel de carne,
precisará pedir um envelope de boi ralado. Telefone público, o popular orelhão,
é conhecido como poste de prosa e a ficha de telefone é pastilha de prosa. Ovo
eles chamam de semente de galinha e motel é lugar de instantinho. [...] Se você
estiver por lá, viajando de carro, e precisar alguma informação sobre a estrada
pra voltar pra casa, deve perguntar pela “Briói”, como é conhecida a BR 101.
Em Porto Alegre,
uma empresa tentou lançar um serviço de entrega a domicílio de comida chinesa,
o Tele China. Só que um dos significados de china no RS é prostituta. Claro que
não deu certo. Imagina a confusão, um cara liga às 2 da manhã, a fim de uma loira,
e recebe como sugestão Frango Xadrez com Rolinho Primavera e Banana Caramelada.
Tudo isso é
muito engraçado, mas às vezes dá problema sério. A primeira vez que minha mãe
foi ao Rio de Janeiro, entrou numa padaria e pediu: “Me dá um cacete!!!”.
Cacete pra nós é pão francês. O padeiro caiu na risada, chamou-a num canto e
tentou contornar a situação. Ela ingenuamente emendou: “Mas o senhor não tem
pelo menos um cacetinho?”.
N. do T. –
mandinho é garoto, carpim é meia, bragueta é braguilha, pandorga é pipa, bici é
bicicleta, lomba é ladeira, lancheria é lanchonete.
RAMIL,
Kledir. Tipo assim. Porto Alegre: RBS Publicações, 2003. p. 75-76
(Fragmento)
05. No segundo
parágrafo do texto, o autor procura caracterizar os falares regionais no Brasil
relativamente:
A) à entonação das frases no
interior
B) à influência dos imigrantes
europeus
C) às pronúncias carioca e
paulista
D) às diferenças no emprego do
vocabulário
E) à importância do inglês
norte-americano.
06. De acordo com
o texto, a principal característica do falar mineiro é:
A) a pronúncia forçada do fonema
/R/
B) a ditongação do e em ei
antes de som nasal
C) o acento “cantado” da primeira
sílaba da palavra
D) a pronúncia “chiada” do fonema
/s/
E) a eliminação de sílabas
inteiras na pronúncia
07. Com relação ao
parágrafo anterior, o segundo parágrafo expressa uma:
A) exemplificação
B) explicação
C) retificação (correção)
D) oposição
E) confirmação
08. No período
“Caso você queira um pastel de carne, precisará pedir um envelope de boi
ralado.”, a noção expressa pela
primeira oração, em relação à segunda é de:
A) concessão
B) causa
C) finalidade
D) comparação
E) condição
09. No 5° parágrafo,
a expressão “Dá um nó na língua” significa que:
A) a fala está revestida de
formalidade excessiva
B) o emissor tem dificuldades
para pronunciar as palavras
C) o falante desconhece o
significado das palavras usadas
D) o emissor preocupa-se com a
interpretação da mensagem
E) o falante comete erros de
concordância e de regência
10. O vocábulo
assinalado em “ O padeiro caiu na risada, chamou-a num canto e tentou contornar
a situação” pode ser interpretado como:
B) aprimorar
C) solucionar
D) arredondar
E) rodear