O AMOR E A RAZÃO
Por Pe Antônio Vieira
Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos [...], nunca chega à idade de uso da razão. Usar razão e amar são duas coisas que não se juntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma vontade com afetos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo.
“Sermão do Mandato”. In Sermões. Rio de Janeiro, Agir, 1957.
VOCABULÁRIO
idade de uso da razão - segundo o costume, considera-se que uma criança começa a fazer uso da razão, isto é, a distinguir o certo e o errado, aos sete anos.
febricitante - febril
frenético - delirante, desvairado.
tresvariar - delirar, estar fora de si, dizer ou fazer disparantes.
Atividades
1. Sendo parte de um sermão, esse fragmento possui uma estrutura argumentativa: uma afirmação central e os argumentos com que o pregador procura convencer o ouvinte. Copie a afirmação central do fragmento.
2. Que argumento o autor usa para justificar sua afirmação de que o amor não chega jamais à idade da razão?
3. Quando o amor conquista uma alma, qual é o primeiro derrotado?
4. Segundo Vieira, o delírio é consequência necessária da febre.
Copie do texto duas frases que repetem, com outras imagens, esse mesmo argumento.
5. Comente: "O amor deixa de variar, se for firme, mas não deixará tresvariar, se é amor".
São características do Barroco:
* Cultismo - Uso exageradamente de metáforas , antíteses ou seja de figuras de linguagens, que chegam a dificultar o entendimento. É descritivo.
* Conceptismo - é analítico, utilizando se mais da razão.
* Pessimismo.
* Desequilíbrio entre a razão e a emoção.
* Dualismo; contradição
* Tendência à ilusão
* Predomínio de figuras de linguagens
TEXTO II
"[...] Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelhos e luz. Se tem espelhos e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver falta de luz. Logo, há mister luz,há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento[...]
Pe. Vieira
6.Responda com base no texto II.
a. O texto é predominantemente cultista ou conceptista?
b. A quem correspondem os elementos:
(1) olhos ( ) Deus
(2) espelho ( ) pregador
(3) luz ( ) ouvintes
c. Para convencer uma alma é necessário:
(a) Pregador ( ) com a graça , iluminando
(b) Ouvinte ( ) com o entendimento, percebendo
(c) Deus ( ) com a doutrina, persuadindo (convencendo)